O homem, para se evadir dos seus
conflitos, tem inventado muitas formas de “meditação”.
Estas têm por base o desejo, a
vontade e a ânsia de conseguir algo, o que implica conflito e uma luta para
chegar.
Esse esforço consciente,
deliberado, realiza-se sempre dentro dos limites de uma mente condicionada, e
nesta não existe liberdade. Todo o esforço para meditar é contrário à
meditação. A meditação vem com o cessar do pensamento.
E só então se revela uma dimensão
diferente, que está além do tempo. A meditação é uma das maiores artes da vida
– talvez ‘a’ maior, e não é possível aprendê-la de alguém. Nisso reside a sua
beleza. Não está sujeita a nenhuma técnica, e portanto a nenhuma autoridade.
Aprendermos a respeito de nós
mesmos, observando-nos, vendo o modo como andamos, como comemos, reparando no
que dizemos, nas conversas fúteis e maldizentes, na inimizade, no
ciúme... estarmos atentos a tudo isto, em nós mesmos, sem qualquer
escolha, faz parte da meditação.
Assim, a meditação pode acontecer
quando estamos sentados num carro ou passeamos nos bosques cheios de luz e
sombras, quando escutamos o canto das aves, quando olhamos o rosto da nossa
mulher ou do nosso filho.
Se nos esforçarmos por meditar,
não estamos a meditar.
Se nos esforçamos por sermos bons,
a bondade não floresce.
Se cultivamos a humildade, ela
fica ausente.
A meditação é a brisa que entra
quando deixamos a janela aberta; mas se deliberadamente a mantemos aberta, com
o propósito de atrair a brisa, ela não aparece. A meditação é a ação do
silêncio.
(Meditações – Editorial
Presença, Portugal, 1999).
Voltar
|