Sobre a meditação 
J. Krishnamurti

O homem, para se evadir dos seus conflitos, tem inventado muitas formas de “meditação”. Estas têm por base o desejo, a vontade e a ânsia de conseguir algo, o que implica conflito e uma luta para chegar.

Esse esforço consciente, deliberado, realiza-se sempre dentro dos limites de uma mente condicionada, e nesta não existe liberdade. Todo o esforço para meditar é contrário à meditação. A meditação vem com o cessar do pensamento.

E só então se revela uma dimensão diferente, que está além do tempo. A meditação é uma das maiores artes da vida – talvez ‘a’ maior, e não é possível aprendê-la de alguém. Nisso reside a sua beleza. Não está sujeita a nenhuma técnica, e portanto a nenhuma autoridade.

Aprendermos a respeito de nós mesmos, observando-nos, vendo o modo como andamos, como comemos, reparando no que dizemos, nas conversas fúteis e maldizentes, na inimizade, no ciúme...  estarmos atentos a tudo isto, em nós mesmos, sem qualquer escolha, faz parte da meditação.

Assim, a meditação pode acontecer quando estamos sentados num carro ou passeamos nos bosques cheios de luz e sombras, quando escutamos o canto das aves, quando olhamos o rosto da nossa mulher ou do nosso filho.

Se nos esforçarmos por meditar, não estamos a meditar.

Se nos esforçamos por sermos bons, a bondade não floresce.

Se cultivamos a humildade, ela fica ausente.

A meditação é a brisa que entra quando deixamos a janela aberta; mas se deliberadamente a mantemos aberta, com o propósito de atrair a brisa, ela não aparece. A meditação é a ação do silêncio.

(Meditações – Editorial Presença, Portugal, 1999).

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